sexta-feira, dezembro 05, 2014

Ciclicamente a confirmação da minha solidão me alcança, e ingenuamente, pensava eu que cada vez que isso acontecesse seria mais fácil, por já ter acontecido num ciclo anterior, mas, parece que cada vez fica pior, cada vez a dor é mais aguda e mais profunda, percebo na superfície dos outros que não importa o que você é e sim o que você faz pra eles, com eles, tudo por eles, a mesma situação se repetindo no lidar com o mundo de humanos egocêntricos, no qual eu me encaixo com certeza, e com certeza vou me fechando no meu mundo secreto, em que conviver com animais me parece muito mais real e sincero, hoje me parece absurdamente a única coisa real e sincera que vivo.

quinta-feira, novembro 20, 2014

Fiquei olhando para frente ouvindo a mesma música por horas, não sabia mais como me mexer, era como se meus braços e pernas não obedecessem mais nada, minha mente parou de responder aos estímulos externos, não chorei nem mudei o foco do olhar, simplesmente, fiquei ali, então escureceu o dia e eu continuei parada.
Mudei cinco vezes essa semana, quando me acostumo com a nova disposição acabo pensando em você de novo.
Está há uma semanas sujo, o apartamento inteiro, depois que ele se mudou perdi minha vontade de mudar as coisas de lugar, parece que se continuar como está a presença permanece, mas... está sujo.

Não consigo visualizar os móveis em posições diferentes. Preciso me mexer, estar, pensar sobre, mudar os móveis de lugar ... me atraso.



quarta-feira, novembro 19, 2014

Debaixo da luz à pino via que os pêlos eram claros, cabelos, barba, cílios, tudo num tom dourado postos perfeitamente em um rosto liso, sem marcas.

Com aquela luz vindo de cima, seus olhos brilharam de excitação, olhava pra ele como se fosse a primeira vez estranhando perceber suas feições e cores como se as nunca tivesse notado antes, principalmente por ser tão familiar.

Gostaria de passar o tempo todo junto dele, mas, o motivo não era pela presença constante, e sim o fato do encontro ser depois de alguns bons momentos separados.

A estranheza cobria seus sentimentos como se tivesse que conhecê-lo de novo, mesmo sabendo como ele agiria aos mais variados estímulos, mesmo sabendo que poderia agir normalmente em sua presença.

Então se fez presente, o máximo que pôde. Não foi muito.

sexta-feira, outubro 31, 2014

eu sabia

Ah, aquelas promessas que só existem quando não se tem mais nada pra fazer além de ver alguém suspirando por você, é tipo uma mentira pronta pra viagem (e me vê duas, por favor), bonito por fora e mais barato por ter o prazo de validade vencendo, a vida simplesmente vai e os fungos vão tomando conta, se estiver fechado não dá pra sentir a podridão aumentando, aumentando, assim vai ficando no fundo da geladeira, enquanto coisas novas entram e saem rapidamente, só esperando pra ser jogado fora.

terça-feira, outubro 07, 2014

sinto o descolar lentamente,
e pela lentidão não se sente doer,
só decepcionar, mas, isso não dói,
por que é algo esperado e só,
a confirmação de algo que já se sabe,
dessas coisas de ser mais fácil tirar devagar,
por que tira a cola junto e não sobra nada,
ao contrario de um curativo,
que é melhor arrancar de vez,
no olhar a carne exposta que assusta mais,
do que a dor sentida instantes antes.

quarta-feira, setembro 17, 2014

O que precisa para não querer mais sair da porta de casa é bem simples. A quantidade de afazeres acaba revelando um mundo mais real aqui dentro e as pessoas vem para aumentar a atmosfera que crio com fumaça e luz indireta. Sou dessas familias que se juntam em volta duma mesa de cozinha, compartilham os momentos com petiscos e risadas até que chegue a hora de dormir. E continuando a tradição amaldiçoo minhas visitas como uma bruxa má que engorda criancinhas. A maldição é preguiça, gula, luxúria, avareza, ira, soberba e vaidade. E todos se saem muito bem, obrigada.

sábado, agosto 23, 2014

Tô com aquele agasalho que você me deu há dois dias ... acho que ele aguenta mais uns dez.
Sinto que a vida vai me levar pro caminho de te seguir de novo, esperando mais uma vez pra algo piscando verde ali no canto mais escuro da sala, enquanto me cubro de cobertores, cachorros e pacotes de bolacha pela metade.

sexta-feira, agosto 22, 2014

Afinal, os dentes rangendo não pareciam mais tão ameaçadores e qualquer quebra não estava em vista depois de todo o calcio que conseguiu acumular dentro dos seu corpo.

quinta-feira, julho 17, 2014

Enfim, a sós, re-decorando poses e plantas entre azulejos da cozinha fria que tenho no meio do inverno, me perdi na possibilidade de todos os ângulos que o ambiente me dá, e vi, lentamente o sol passando pela parede, marcando os 15 em 15 minutos de espera, respirei fundo umas quatro vezes, fundo, e se voltar pra lá, agora, antes de sair pra um horário mais quente do dia, vou acabar esquecendo de novo que, de noite, vai acontecer a mesma coisa.

quarta-feira, junho 25, 2014

"Todos aqueles que fizeram grandes coisas, fizeram-nas para sair de uma dificuldade, de um beco sem saída"

terça-feira, junho 24, 2014

Vou sentido nos dedos 
por dentro e mais me parece 
o que o frio dá no osso,
mas, acho que é só a falta, 
ou lembrança, 
do peso/apoio,
da janela abrindo,
do teso do olho,
do não querendo,
proporcionalmente
encaixando, nuns dois 
números menor que você,
perfeitamente e comprovado
em comparação no rapido
reflexo do vidro da janela,
pisco que me deu,
no suspiro e semi cerrar
dos olhos, repara só,
a luz que refletia o que
de antes e longe se via,
a esperança que dava,
algum lugar pra segurar,
quando todo resto
não se sentia muito, mais. 



ANGELA CARTER, "The Lady of the House of Love"

"Um conto de Deuses Americanos
Ela mesma é uma casa mal-assombrada.
Não é dona de si própria; seus ancestrais às vezes aparecem e
olham das janelas de seus olhos, e isso é muito assustador. "

segunda-feira, junho 16, 2014

E sentindo de novo que a preocupação é mínima diante dos atos necessários, finjo que esperança ainda existe, passeio despreocupada e atenta pelos lugares que nunca estive e que deveria ter passado antes. Penso que tenho muito o que fazer e os dias passam como os anos que se passaram até agora, com aquela sensação que só se sente a dor depois que o corte começa a sangrar, mas, o corpo está tão quente que só é uma leve ardida no braço que foi arrancado sem perceber. E se para pra pensar muito esses tais de distúrbios mentais, muito comuns nessa nova época da vida do mundo,  afloram, e meus pés não descolam do chão. Meus desenhos foram virando rabiscos empilhados no canto de uma cômoda qualquer, meus fios de cabelos brancos lutando, contra minha ainda juventude, pra sair depressa, minhas memórias ficando longe, longe.

quarta-feira, maio 07, 2014

Tenho sonhado ultimamente,
desses sonhos agitados que me fazem girar na cama,
quando acordo todos os travasseiros estão jogados por ai,
e paira aquela sensação de que tudo foi verdade,
me vem a vontade de voltar pra casa,
vem a certeza que esta não é a minha casa,
um medo me toma conta e tudo ganha chão.

terça-feira, abril 22, 2014

Não mais que de repente,
me vi metade de algo,
que, há anos, é
algo que nunca foi,
nunca foi e ainda assim é,
por que o não ser, é sim,
um estado do ser,
principalmente,
quando tanto não,
é tanto quanto o ser,
e por isso, sei que é,
daí que esse não,
se condicional ou
se ao caso um chão,
se sinto por acaso
ou se pelo o incerto,
que seja, o que for,
sinto de qualquer jeito,
e sempre é um sim.




quarta-feira, março 19, 2014

e ponto final ...

foi o que o coração disse recentemente, pra meu assombro,
usando a fala dele mesmo, em batidas ritmadas,
bem rápidas, ecoando em todas as veias,
fazendo pulsar a têmpora esquerda,
dando pulinhos de estranheza,
bem diferente de amor,
e ponto final
.

terça-feira, março 11, 2014

...adultos que, debaixo de um verniz de doçura, ruminam intenções vingativas...
Levo o fardo de sentir uma alma romântica,

e não estou falando aqui em romance,
como histórias contadas e relatos baseados
em qualquer coisa real ou inventada, não,

estou falando em ter um quê de piegas
pairando o tempo todo à realidade,
transformando tudo em ridículo,

o volume todo pesando sobre
todos os amores que já tive,
sobrepondo e acumulando,

sim, mais de um, sempre foi,

ainda é e sempre será ao mesmo tempo,
por que passa da ideia definida de
que só amamos uma vez na vida,

amo o tempo todo, todo,
cada brilho formando no olho,
cada detalhe emociona forte,

e assim amo de novo e de novo,
por não saber controlar, talvez,
por não saber a hora de parar, também,

mas, não sinto vergonha por sentir vergonha,

me abalo em tratar tudo como se fosse
a última vez, e o nó na garganta vem,
quase diariamente se parar pra pensar

direito no que sou capaz de sentir,
não que o resto do mundo não seja,
sabe, não é prepotência, é amor,

sinto a reação física disso à exaustão,
um pouco diferente das pessoas a quem pergunto,
amo sem a menor dúvida, sempre,

cada momento que transformo em mágico,

e amo como amo a magia,
o fantástico sem leis naturais,
tiro da vida qualquer lei

que não seja o amor, é triste,
com o passar dos anos,
nessa virada dos quase trinta,

percebendo seres humanos
como indivíduos distintos de grupos,
não preciso mais que você saiba,

que levo isso pra sempre, desde sempre.

terça-feira, março 04, 2014

A timidez evita muitas coisas na minha vida, trava alguns músculos bem na hora da incerteza,
faz balbuciar, com pausas dramáticas demais, palavras de aceitação e falso desdém pelos acontecimentos
momentâneos, coloca no lugar a tal cordialidade irreal e cheia de piadas sem graças, tropeços no ar,
risadinhas de desespero, uma lista ou outra de afazeres diários e planejamento de férias, enquanto o terror noturno aleatório aumenta conforme a passagem do tempo, mas, uma coisa eu aprendi com tudo isso, se a gente não ligar, provavelmente ninguém ligará também, e isso, hah, isso é uma coisa impagável, conseguir perceber, na omissão que essa timidez me causa, que o afeto era unilateral, não precisamos falar mais nada, dai é só ir embora em silencio.

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

E o bater de portas me fez ouvir mais alto por alguns instantes,
deve ser adrenalina que ajuda o prestar atenção no som ambiente,
e com essa super audição o ouvi respirando alto, com seus chiados,
gatinhos dentro do peito carregado, anos de fumaça morna, espessa.
Inspirou calmamente como se aqueles ruídos nem existissem, e de fato,
não existiam fora a clareza que um medo causa, clareando os cantos,
o som que ecoa com mais força pela luz rebatendo na parede branca.
O medo me é claro, um clarão para dizer bem dito, quase explosão de luz,
que cegando por instantes me faz ouvir mais claro, mais ao fundo,
mais tato, com menos sangue nas extremidades que vão ficando frias,
mais rugosidade no toque dos dedos dos pés que normalmente nada sentem,
a não ser seus macios sapatos e meias do dia a dia, a rotina que não tem medo.
Mas, no momento mesmo, da brancura ressonante cheia de calafrios,
ouço tudo aquilo que não se quis dizer e descansa com os gatinhos,
dormindo calmamente dentro do peito enlacrado e escuro.

Sem Aviso - Clarisse Lispector - Aprendendo a Viver

"...E quando nos álbuns de adolescentes eu respondia com orgulho que não acreditava no amor, era então que eu mais amava; isso eu tive que saber sozinha. Também não sabia no que dá mentir. Comecei a mentir por precaução, e ninguém me avisou do perigo de ser tão precavida; porque depois nunca mais a mentira descolou de mim. E tanto menti que comecei a mentir até a minha própria mentira. E isso - já atordoada eu sentia - isso era dizer a verdade. Até que decaí tanto que a mentira eu a dizia crua, simples, curta: eu dizia a verdade bruta."

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Ah,
na imensa capacidade
da auto-ilusão,
acabo me confundindo,
de qual parte era real,
e qual era você.

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

conversa canina

Hoje fiquei por cinco horas olhando pra você, que silenciosamente gritava por ajuda enquanto tentava sem sucesso falar alguma palavra que fosse. Eu gritava alto do lado de fora da sua cabeça, te chamando pra sair dela e viver aqui fora comigo ... não deu certo.

sexta-feira, janeiro 31, 2014

Medo

Com corpo ainda quente, saiu na ponta dos pés, abriu a porta com cuidado e a fechou rapidamente atrás de si tentando não fazer nenhum som que a revelasse. Ao invés de lutar como de costume, fugiu olhando pra trás de vez em quando, correu pra longe e não, não contou pra ninguém. Durante dez dias as dores invisíveis foram sentidas em pequenas marcas pontuais, palavras foram decoradas no espelho e o escuro foi interligando os fatos nas noites que ficavam cada vez mais curtas. Por fim estava lá, como o combinado, esperando nos intermináveis minutos de coração disparado. Mas, quando chegou mesmo a hora os olhinhos foram enchendo, se desculpou por ter agora um monte de medo preso no peito, engoliu o choro e escondeu metade do rosto molhado no monte de travesseiros amassados num canto da cama recém arrumada.

quinta-feira, janeiro 23, 2014

Oh, ne me faites pas pleurer pour vous.

segunda-feira, janeiro 20, 2014

Oh

Nada é muito risada,
é mais o nervoso.
No seu esplendor
vira um altar.
Suntuoso como não
deveria ser e jamais foi.
Fico imaginando
que acreditei.
As historias alheias
que apenas bajulam.
Que bobeira
de adulto que virei.

quinta-feira, janeiro 09, 2014

Então,
ouviu-se
meu
coração
pulando
uma
batida,
por
você.
O ócio que permeia decisões prorrogadas,
a maldita mania de bater os pés no chão
esperneando pra você mesmo
que o mundo conspira e essa baboseira,
por mais que não seja, parece que é,
então de novo e de novo,
tenho preguiça e prefiro dormir
com nosso ar de auto-piedade pairando,
entre nós dois, preenchendo o que falta,
a primeira vista um sonho a parte,
a segunda, a necessidade por inteiro
da decisão certeira e agora,
ou tudo,
ou fora.