quarta-feira, janeiro 20, 2021

nota antiga

Estava reciclando meus antigos cadernos ontem e achei isso que escrevi num rascunho de carta não enviada:

"Sabe por que você não sabe quase nada sobre mim? Por que você não cala essa sua boca que só sabe falar sobre você."

Necessário? Talvez não.
Ameaçador? Com certeza.

domingo, janeiro 17, 2021

Papai acaba com a magia

Assistindo uma reprise de programa de talentos na televisão aberta, da qual meu pai não abre mão durante suas quatro refeições diárias, ao ver uma contorcionista fazer seu número final, embasbacado com a elásticidade e graciosidade da garota, ele comenta:

"Qualquer erro ela fica tetraplégica."

sábado, janeiro 16, 2021

temas

-com você aprendi a falar "eu te amo" sem que isso significasse nada;

-você me ensinou a fechar o box do banheiro depois do banho;

-limpar o ralo dos outros parece demonstrar sentimentos;

-menstruei no seu rejunte - parte dois, a revanche;

-apanhar também é uma prova de amor;

-dançando aos gritos de "ninguém nunca te amou como eu, garota";

-ele disse "você é pior do que eu só que esconde melhor";

-eu gosto do jeito que você me machuca uh uuuuh;

-eu o inspirei à sua pior música;

-o primeiro dia que você gritou comigo estávamos juntos há um mês;

-ele me falou que fez macumba com a minha camiseta velha;

-esqueci de contar que a camiseta que ele me roubou era de outro homem;

-"amor da minha vida" ou "dessa vez você não foge";

-ah não, ele tá aqui de novo;

-"vamos falar sobre sentimentos" a tradução livre dos dias que eu tive medo de você.






-

terça-feira, janeiro 12, 2021

Bom demais!

 Você já deletou seus e-mails hoje?

Parte 1: À procura de "Song Book de Miyuki Nakajima"

 Capitulo 1 - " Obrigado"


1

Era uma vez uma época em que cada pessoa possuía um nome. Dizem que esses nomes eram colocados pelos pais.

Eu li isso num livro.

Vai ver que muito, muito tempo atrás era assim mesmo.

Esses nomes eram do tipo que os famosos protagonistas de romances têm, como Pyotr Verkhovensky e Oliver Twist e Jack Oshinumi.

Devia se o máximo.

"Ei, ei, Adrian Leverkühn, para onde se dirige Vossa Senhoria?"
"Para onde me dirijo não é da conta de ninguem. Estou errado, Rintarozinho Mori?"

Atualmente são poucos os que possuem esse tipo de nome. São conservados apenas por políticos e atrizes.

Mais tarde, as pessoas começaram a se autonomear. eu me lembro vagamente dessa época.

Todos esforçavam-se ao maximo em se dar nomes. As pessoas iam até a Prefeitura para trocar  os nomes dados pelos pais por outros imaginados por si mesmos.


Havia sempre em longa fila em frente à Prefeitura.

A fila era tão longa que, se um casal começasse a namorar ao entrar nela, seu bebê nasceria e seria levado de ambulância dali no momento em que conseguisse avistar a prefeitura.

Os nomes antigos eram atirados um após outro no rio detrás da Prefeitura pelos funcionários.

Milhões de nomes antigos iam sacolejando espreemidos uns aos outros por toda a superfície do rio, ocultando completamente a água, flutuando suavemente correnteza abaixo.

Crianças levadas que éramos, nos juntávamos à beira do rio e brincávamos de tacar pedras nos nomes antigos que passavam flutuando, xingando-os e lançando jatos de urina sobre eles.

- Yaaaaaaa, yaaaaaaaa, tolot!! Yaaaaa, yaaa, úvulas!!

Lado a lado, ao longo da margem do rio, desfiávamos insultos em cima daqueles nomes caquéticos, apavorados, e colocávamos para fora, ao mesmo tempo, os nossos pênis incircuncisos.

-Apresentar ... armas!!

Nós apontávamos.

-Atirar!

Os pobres nominhos velhos se debatiam sob o jato conjunto de nossas mijadas, debatendo-se para um lado e para o outro, incapazes de revidar contra nós.

-Seus bostinhas de merda!!
-Mijões!!
-Filhos ingratos!!

Esforçando-se ao máximo para nos ofender, os depauperados nomes boiavam em direção ao mar.

Havia muitos nomes estranhos entre aqueles escolhidos pelas pessoas.

Muitos eram totalmente sem pé nem cabeça.

Eram frequentes as desavenças entre aqueles que se autonomeavam e o nome escolhido, havendo mesmo casos de acabarem se matando um ao outro.

Foi nessa época que nos acostumamos com a "Morte".

Jogávamos a mochila nas costas, calçávamos as galochas e lá íamos nós para a escola sob o som de nossos pés chapinhando pela estrada
 coalhada do sangue que escorria dos nomes e das pessoas, o qual chegava até os tornozelos.

Diariamente comboios formados por caminhões de oito toneladas repletos de cadáveres de gente e seus "nomes" trafegavam pelas rodovias.

Quando eu estava na terceira série, um colega da turma se colocou um nome escondido dos pais.

-Você não devia faezr isso- eu aconselhei.
-Não estou nem aí- o cara falou.
-Meu nome é show de bola- ele dizia.

O garoto acabou sendo assassinado pelo seu "show de bola".

Foi um homicídio abominávelmente brutal.

tâo brutal que ningém acreditava que o cadáver fora um dia um ser humano.
...