sexta-feira, fevereiro 21, 2014

E o bater de portas me fez ouvir mais alto por alguns instantes,
deve ser adrenalina que ajuda o prestar atenção no som ambiente,
e com essa super audição o ouvi respirando alto, com seus chiados,
gatinhos dentro do peito carregado, anos de fumaça morna, espessa.
Inspirou calmamente como se aqueles ruídos nem existissem, e de fato,
não existiam fora a clareza que um medo causa, clareando os cantos,
o som que ecoa com mais força pela luz rebatendo na parede branca.
O medo me é claro, um clarão para dizer bem dito, quase explosão de luz,
que cegando por instantes me faz ouvir mais claro, mais ao fundo,
mais tato, com menos sangue nas extremidades que vão ficando frias,
mais rugosidade no toque dos dedos dos pés que normalmente nada sentem,
a não ser seus macios sapatos e meias do dia a dia, a rotina que não tem medo.
Mas, no momento mesmo, da brancura ressonante cheia de calafrios,
ouço tudo aquilo que não se quis dizer e descansa com os gatinhos,
dormindo calmamente dentro do peito enlacrado e escuro.

Nenhum comentário: