terça-feira, janeiro 20, 2015

:OH FUCK

E, ao dirigir muitas horas noturnas na estrada vazia, me veio uma visão. Entre as nuvens pesadas e escuras no horizonte, apareciam mais de perto os avisos de uma tempestade por vir, os trovões silenciosos brilhavam o céu entre um azul ofuscante e um rosa escuro avermelhado, era preciso cerrar de leve os olhos para ver a mudança entre as duas cores. Sem que fosse notado, um sol pálido surgiu entre o canto da janela esquerda e o retrovisor, estranhamente não tinha raio nenhum, era simples um circulo, com o perfeito contorno visível, de luz difusa entre as neblina rala pré tormenta que cobria o amanhecer do dia. Aquilo me tirou todo o foco da chuva que começava a cair ao longe na estrada, chegando rapido a meu encontro, quando menos vi chovia pavorosamente uma leva de granizo, o calor abafado do verão entrava pelas frestas abertas da janela do carro com o início da chuva, o sol se escondeu de novo entre os barulhos que agora atordoavam dentro do carro. O amanhecer escureceu, e dirigi pela noite por mais duas horas.
E te veio a certeza de que eu era só pra olhar, só olhar de longe, enquanto eu me remexia em caras e bocas para você, que sentado no pequeno sofá da sala só olhava.  Simplesmente eu podia fazer o que quisesse, mas, preferia ficar ali, também olhando entre os cabelos que me cobriam o rosto de permeio à uma pose ou outra, os cabelos pretos e compridos emaranhando a vontade de esperar fazer o que fosse comigo. Você só olhava e eu fingia que não sabia fazer nada, eu fingia muito bem e você realmente não sabia o que fazer, afinal, duas pessoas submissas não formam nada mais que uma vitrine.