Pela primeira vez tive dó.
Respirei fundo, decidi os proximos atos e então, certeira, taquei o resto da garrafa de alcool na barata de 5 cm que tentava saber que lugar claro, liso e rosa era aquele banheiro que ela estava.
Em desespero, ela escorregava tentando sair da pia, sem êxito.
Todas as perninhas esperniando o ressecamento entorno.
O cachorro pulava em mim por sentir. nervoso que eu exalava e o nervosismo aumentando e a barata meio tonta finalmente saindo da pia.
Exitei ao fechar a porta quando vi que ela não conseguiria voar, que estava indo pra longe de nós, um tanto quanto obvio se pararmos pra pensar que é apenas um animal fugindo da morte, com medo, repleta de cheiros e barulhos de ódio e nojo.... e dó.
Não aquela dó querendo dizer compaixão.
Dó mesmo, me sentindo superior, com a decisão na mão, vendo o bicho morrer lentamente, e sabendo que a quantidade de alcool não seria o suficiente pra uma barata daquele tamanho.
E a irmã guinchando ao fundo.. e eu disse logo um shiiiiiiiiu, mas, a mãe já acodou.
Olhando com pesar então, jogo mais um gole do resto de algo ao alcance, que lembrei que levava álcool na composição e insuficiente de novo.
A mãe foi buscar mais álcool.... eu sabia que podia matá-la mais rápido, agora que não tinha mais medo de olhar a morte, de chegar perto de algo morrendo e ter a certeza que não vai atacar de volta... ou tentar fugir...ela estava sufocando, não é mesmo?
Eu podia matar e não matei. Podia acabar com o sofrimento naquele instante, mas, não fiz. Fiquei com dó pelo desespero.. e por saber que não mataria de outro jeito, não, seria lentamente. Olhando.
Brrrr calafrios tardios agora.
Bom, no fim joguei o suficiente e então ela morreu nessa ultima tentativa, quase instantaneamente.
E eu fiquei olhando, não peguei o cadáver, não vou pegar e ninguém pegou.
sábado, outubro 31, 2015
6:11
domingo, outubro 18, 2015
05:03
Vou sentindo que cada ato sai errado...
O tempo desencontrando nas falas...Essa saudade de você que não passa...Chuto com força as paredes de dentro do meu peito só pra ver se aperta menos.... mas, dai aperta mais e eu sinto que nunca serei tão feliz quanto.
quarta-feira, setembro 30, 2015
Ponteiros
terça-feira, agosto 25, 2015
sexta-feira, julho 17, 2015
Fim de sexta
As vezes eu queria dormir até a epoca em que eu já fiz tudo o que tinha pra fazer nessa vida e apenas lembro de poucos momentos marcantes da juventude, sem reconhecer mais ninguém, com a memória revivendo todos os dias passados como se tivesse acabado de acontecer.
E outras vezes eu queria só acordar e perceber que isso que eu vivo ainda não existiu e eu ainda tenho todo tempo do mundo pra viver tudo de novo pela primeira vez.
Essa mania que tenho de me isentar o presente, minha nossa, a minha própria vida normalmente não é a que estou vivendo.
sábado, julho 04, 2015
Mês de agosto
Eu avisava e ele de pronto respondia:
- pai, a blusa tá do avesso...
- é pra espantar cachorro louco.
sexta-feira, julho 03, 2015
Quinta nublada
Entre vozes se misturando com as gravações,
Com a musica tocando no andar de cima,
Ouço os pés pousando no chão,
Sinto a vibração dos passos dentro do peito,
Os olhos vão lentamente forçando abrir,
Quando fecham de vez me pego sonhando,
Com o que está aqui fora ecoando por dentro.
Sonho de vento
Sonhei que estava de férias num campo, o terreno era formado por vários níveis, caminhos de terra dividiam o gramado, interligando os casarões espaçados. Eu me via, passando ao fundo, por cima dos ombros de uns meninos que me olhavam de uma colina próxima, sentados embaixo de uma árvore com o vento vindo de trás deles em minha direção. Dava pra perceber que o eu lá longe ouvia tudo que eles falavam, mas, isso eu só sentia, porque eu mesmo não consegui ouvir nada.
Guardei no armário um copo usado,
No fundo dele os restos de suco de maracujá,
E seu cheiro misturado à madeira,
Me trouxe uma lembrança de infância,
Cheiro de doce guardado no fundo do armazém,
A luz palida entrando pelas portas da frente,
O ar parado e frio da esquina de casa,
A poeira subindo lentamente com os passos pesados da avó,
Entre os caixotes a serem organizados num canto,
Na lembranca de algo que nunca vivi.
quinta-feira, julho 02, 2015
quinta-feira, maio 28, 2015
" Agora o verão se foi
E poderia não ter vindo
No sol está quente,
Mas tem de haver mais.
Tudo aconteceu,
Tudo caiu em minhas mãos.
Como uma folha de cinco pontas
Mas tem de haver mais.
Nada de mau de perdeu,
Nada de bom foi em vão....
Uma luz clara ulumina tudo
Mas tem de haver mais.
A vida me recolheu,
À segurança de suas asas.
Minha sorte nunca falhou,
Mas tem de haver mais.
Nem uma folha queimada,
Nem um graveto partido.
Claro como um vidro é o dia...
Mas tem de haver mais."
Arseni Tarkovsky