segunda-feira, junho 13, 2011

southern sky


Era uma manhã fria com um céu azul limpo e esbranquiçado, daqueles que você sabe que na sombra fará frio. Todas as pessoas na rua carregavam os seu casacos e usavam óculos escuros, não tinha sol propriamente dito, mas, a claridade realmente incomodava e a essa altura já me arrependia de ter deixado os óculos no criado mudo ao lado da cama.

Lembro-me perfeitamente das lentes viradas para baixo com desleixo, no meio de algumas folhas amareladas e secas do lírio morrendo no vaso. A vontade de fazer algo era tão pouca que até a planta me esquecera de molhar e das 14 flores apenas 3 brotaram e as folhas já caídas combinavam com botões agora murchos e escurecidos.

De qualquer jeito ainda tinha muito parar andar e não deveria agora pensar sobre as pendências cada vez maiores na minha rotina forçada. Conseguia resolver tudo ao mesmo tempo pela manhã, mas eu só queria ficar estática na minha cama, abrindo os olhos de tantos em tanto minutos apenas para perceber que a cor do dia já mudará para um azulado quente indicando que eu já deveria ter me levantado há horas e era isso que eu fazia há algum tempo, o que obviamente fazia meu dia ser absurdamente corrido, com algumas pausa para engolir qualquer coisa que me fizesse não ter uma imensa dor de cabeça no fim da tarde.

Por mais descansada que estivesse parecia que minhas pernas tinham um peso gigante, como se eu não as utiliza-se a dias, semanas quem sabe e meus passos eram penosos, a ponto de meu poder de distração com a paisagem ser impossibilitado pelo imenso cansaço de repetidamente ter que me distrair. Poucos pensamentos passavam pela minha cabeça na hora e uns dos únicos que permaneceram após a caminhada árdua era se a minha capacidade de me distrair com coisas simples ainda existia.

Me deu uma saudade intensa dos meus passeios descompromissados em bosques vizinhos, espaços pequenos embaixo de árvores, cafés, museus, cinemas de arte isolados, lugares que eu sabia que nunca encontraria ninguém conhecido e que provavelmente ninguém gostaria de me conhecer, e nisso eu passava horas sozinha conversando com meu cachorro e obtendo respostas consideráveis sobre como as coisas podem ser bem mais calmas e passíveis.

Durante todo o caminho a sensação de uma falsa melancolia me dominava quase por completo, falsa, por que eu tinha a certeza quase palpável de que não existia motivo nenhum para ela acontecer ou se manifestar por razões externas.

Não sei se dias de outono me deixam assim mesmo, enfim, o fato é que meus 20 cigarros diários acabam lá pelo fim do dia me forçando a comprar mais vinte ao voltar parar a casa pelo mesmo caminho que conheço perfeitamente, mas que cada dia mais tem se mostrado invisível, como se eu pegasse um túnel de volta pra casa e não me importasse mais com quase nada externo a mim. Tanto em minha parte racional quanto emocional o classifico como ruim, mas eu não ligo mais ... nem pra isso.


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